Débora Laís Ferraz dos Santos (Serra Talhada, 1987) é uma escritora brasileira. Nascida no sertão de Pernambuco, mudou-se ainda em 2001 para João Pessoa, onde formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, em 2009. Escreveu seu primeiro livro, Os anjos, em 2003. O conto O filhote de terremoto, finalista do Prêmio SESC de Contos Machado de Assis em 2012, foi adaptado para o cinema no curta-metragem Catástrofe (2012), dirigido por Gian Orsini. A escritora venceu o Prêmio SESC de 2014 com seu primeiro romance, Enquanto Deus não está olhando. O livro foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2015 na categoria autor estreante (menos de 40 anos). Atualmente mora em Porto Alegre (RS), onde cursa doutorado em escrita criativa pela PUCRS.
Li que você teve que interromper a escrita deste livro “Enquanto Deus Não Está
Olhando”, a morte do seu pai lhe infundiu mais coragem e determinação para terminar o livro?
Na verdade, como a relação entre pai e filha era uma espécie de mola propulsora do enredo, a morte do meu próprio pai me fez ter muita vontade de desistir do livro. Isso de fato aconteceu por dois anos inteiros. Eu não queria incorrer no erro do autor que se comove exageradamente com a própria história, e não queria que aquele pai que aparece no livro fosse o meu. Acredito que é importante escrever sobre as coisas que conhecemos realmente, mas não fazer disso um divã, é preciso, para que a literatura ganhe uma certa relevância que ela se descole minimamente da experiência pessoal do autor. Mas eu não consegui desistir do livro. O tema, e os pequenos temas ali: a apreensão dos instantes, os personagens... Ter deixado aquilo incompleto me incomodava o tempo inteiro. Então voltei e dois anos depois concluí a escrita do livro.
Qual foi a importância de ganhar este prêmio do SESC?
Sem o prêmio Sesc eu, certamente, não estaria respondendo esta entrevista hoje, pois foi a partir dele que veio o contrato com a editora, que o livro granhou as prateleiras das livrarias, que as pessoas se interessaram, compraram, leram o livro e sem essa publicação, certamente eu também não teria ganhado o Prêmio São Paulo de Literatura. O Prêmio Sesc é um edital nacional para escritores inéditos, com um júri qualificado (no meu ano, os jurados foram o Luiz Ruffado e Eneida Maria de Souza) que muda todos os anos e que é secreto, você participa com pseudônimo (ou seja, pode se fazer passar por mulher, homem, velho) e onde tudo o que vai estar em jogo é o mérito literário do livro. Os ganhadores assinam um contrato com a Editora Record, o livro passa a ser distribuído por todos os Sescs do Brasil. É realmente um grande edital.
Sei que escreve desde cedo, mas como se deu a sua estria na literatura?
Meu primeiro livro, de contos, foi autopublicado. Eu tinha 16 anos e como toda adolescente eu era ansiosa, pretensiosa... Eu entrei em contato com uma editora pela internet, pedi um orçamento, procurei na lista telefônica um revisor, e um lugar para fazer o lançamento. Correu tudo bem, mas claro, o livro era muito verde, os contos, alguns deles eu tinha escrito com 13 anos. Vendi todos e depois, passei o ano seguinte inteiro tentando comprar os livros de volta. É uma história engraçada.
Você teve algum influência familiar?
Não. Eu não venho de uma família de leitores, de eruditos... Foi bom ter sido assim. Ninguém ter chegado pra dizer que eu tinha que ler, que era importante.
Fale-nos deste livro, do enredo e de como surgiu a história, se foi baseada em algum caso da vida real, ou é pura ficção?
É, formalmente, um livro de ficção. Os personagens foram inventados a partir de um conflito clássico: o embate entre pais e filhos está em toda a literatura. E uma questão que me era cara pessoalmente: a diferença entre o sertão que há no imaginário e o sertão que de fato existe, as peculiaridades desse universo... E a ideia toda foi amadurecendo muito aos poucos, não surgiu toda de uma vez.
O que pretende com literatura, ganhar mais prêmios ou escreve por necessidade existencial?
Eu não pretendo nada com a literatura. Acho que qualquer um que pretenda algo com a literatura pode se decepcionar absurdamente. Eu pretendo a literatura. Eu pretendo conseguir chegar nela, e não conseguir algo com ela.
Como foi a repercussão do seu primeiro livro, os Anjos de 22013?
Não posso me queixar. O livro saiu nos jornais do estado, numa revista nacional (voltada ao público adolescente), e muita gente veio comentar, dizer que leu. De vez em quando alguém realmente gostava. Mas não é grande coisa o que um livro autopublicado nas circunstancias que foi pode conseguir. É bom ter sido assim pois realmente era um trabalho muito verde.
Como você julga seu trabalho, acredita que seus livros são bons, independente do que dizem os críticos e os prêmios?
O primeiro eu tenho certeza que não. Mesmo que achem bom eu não vou achar, mas faz parte. E o Enquanto Deus não está olhando, eu ainda não consigo julgá-lo. Acho muito difícil para um autor julgar o próprio trabalho.
Está escrevendo outros livros, e pretendem publicar quando?
Sim, estou escrevendo um outro livro. Ele já tem contrato com a Editora Record, mas ainda não tem previsão de lançamento.
Você como ver o mercado editorial atual, ser mulher ajuda ou dificulta?
Bem, eu não tenho como dizer isso de maneira muito precisa, não tenho números, não fiz uma pesquisa... Mas a minha impressão é que ainda dificulta. Há quem desista de um livro só por saber que foi escrito por mulher.
Acredita ser possível viver apenas da literatura?
Não dá, certamente, pra viver só do direito autoral dos livros.
Pretende deixar o jornalismo para se dedicar em tempo integral à escrita?
Bem, na minha carteira de trabalho eu vou ser sempre jornalista. Dizem que não dá pra deixar de ser jornalista. Mas o trabalho na redação eu meio que já deixei há algum tempo para abraçar a vida acadêmica. No momento me dedico apenas ao doutorado em Escrita Criativa.
Pretende publicar em outras línguas, já recebeu algum convite?
Há um conto que deverá sair numa coletânea em alemão. Mas não penso muito nisso.
Qual a dificuldade de publicar no Brasil? Você já conseguiu uma boa editora?
Consegui pelo prêmio Sesc.
Onde encontrar seus livros, deixe contatos e-mail site etc.
Não entendo muito bem sobre a distribuição porque isso é com a editora. Mas deve ser possível comprar em qualquer livraria, ou encomendar. Na pior das hipóteses em lojas virtuais deve ser possível encontra-lo.

