
Sendo um certo Chico Mulungu,
Não sou pior, nem melhor que ninguém...
No mangue tão vermelho de aratu
A lama nutre sentimentos que provém.
De simples, a minha origem é rara
E ser bronco não me é empecilho,
Sou a semente lançada na seara
O que me faz seguir o estribilho.
O amor conduz ao perdão neste plano,
Fonte que eleva o ser humano
Aos bons olhos divinais do Criador.
Digo não, ao desabono do zodíaco
Já que somos carbono e amoníaco
Correntes pelo mesmo corredor.
Chico Mulungu
SONETO DA INFÂCIA LEVE
Desencarrilhou-se um dos vagões ao vento
Do expresso trem da minha maturidade,
Desceu de volta a linha do pensamento
Rumo à boa infância de saudade.
Feliz, conheci aquela estação
Alcançada por minha locomotiva.
Em rios perenes e ao sol, no verão
Banhei-me solene em puberdade viva!
Sempre queremos voltar a ser criança
Para tocarmos o pífano da pujança
Realizados, no mundo infantil.
Um dia ao amanhecer no paraíso
A voz de mamãe me fez bem indeciso:
- Acorda, filho!... De tarde, estás febril!...
Chico Mulungu
Chico Mulungu
Francisco Severino da Silva, filho dos mulunguenses Severino Valdevino da Silva e Mariza Maria da Conceição. Nasceu em 24 de agosto de 1965, no trajeto de uma viagem entre Crato-CE e Mulungu-PB, a terra natal de sua família.
Viveu toda sua infância na cidade, onde começou estudar. Aos treze anos de idade partiu para João Pessoa, para trabalhar e continuar seus estudos.
Em 1979, morando em república com amigos, começou escrever seus primeiros poemas. Em 1982, Chico Mulungu chega a São Paulo e Rio de Janeiro respectivamente. Em São Paulo teve contatos com vários militantes da Literatura; escritores, poetas e conceituados artistas.
Em 1986, novamente em São Paulo, foi acometido de um câncer maldito, o que lhe abreviou parte da sua vivência. Em 1988, casa-se no Rio de Janeiro, e em 1989 volta definitivamente para sua Paraíba, passando a residir em Guarabira, onde constituiu família.
Depois de passar cerca de duas décadas distante da sua literatura, em 2014, Chico Mulungu volta a escrever e a desengavetar seus antigos escritos. Em 2015, publica o livro Infanto-juvenil, “Fio-fio Cabelos de Sapo em A Multiplicação do Ovo”. E ainda interessa-se por Literatura de Cordel, tendo já publicado 12 títulos. Em 2016, participa de quatro coletâneas: Sendo os livros, “Dez Poeta e Eu, vol 3.” “Um Brinde à Poesia”, “Desafio” e “Guarabira, Luz e Poesia.”