Correio Brasília

Entrevista com o poeta e humanista Valter Aleixo

23/04/2016 15:48
Quem é Valter Aleixo?
 
Uma pessoa amiga e simples.  Além de ser e gostar de coisas simples, tenho uma verdadeira paixão altruística. Na minha vida profissional, como na pessoal, sempre gostei de poder ajudar as pessoas menos privilegiadas.  No campo profissional, meu departamento presta assistência para pacientes, que vêm de oitenta e quatro países ao redor do mundo, para tratar-se no nosso hospital, no Centro Médico de Houston. No campo pessoal, todos os anos, participo de uma missão filantrópica à Guatemala, onde damos assistência médica a centenas de pessoas de pequenas aldeias daquele país. Não há nada que me dá mais prazer do que a sensação de ter feito uma pequena diferença positiva na vida de alguém. 
 
 
Como definiria a poesia? 
 
 
A poesia é algo intrínsico das pessoas. Na maioria das vezes, não sabemos que somos poetas; que o poeta em nós está escondido no fundo do nosso âmago.  Aí, um dia, algo desperta dentro da gente. Nos apaixonamos, por exemplo e, de repente, impulsionados pelas razões do coração, começamos a fazer poesia. Ela é inerente às pessoas apaixonadas, amarguradas e dilaceradas.  E são nesses momentos de grandes emoções que nos inspiramos. A poesia é a terapia que  alimenta a nossa alma e que nos liberta, mesmo que apenas momentâneamente. 
 
 
Quando e como realmente começou escrever poesia?
 
 
Nunca pensei em escrever poesias. Aliás, jamais me imaginei ser um “poeta”.  Achava que, um dia, talvez poderia ser romancista. Mas, há alguns anos atrás, fui convidado para escrever artigos relacionado à saúde para a edição mensal da revista Leading Medicine, do Hospital Metodista de Houston, lugar onde, naquela época, trabalhava como gerente de operações no setor internacional. Achei que não seria a melhor pessoa indicada. Mas, como tudo na vida, há certos momentos que não devemos questionar o que nos é presenteado. A cada vez que escrevia um artigo, pensava desde o ponto de vista do paciente. Isso, ao longo do tempo, tornou-se poesia na minha alma. Nessa época, fiquei conhecendo o filho de um cantor brasileiro muito famoso, de uma pequena cidade do interior do Espírito Santo, que tinha problema nos olhos. Era um garoto muito especial que acabou ficando conosco durante muitos meses. Admirava ver o carinho fora do comum entre pai e filho. Quando ele voltou para o Brasil, escrevi o poema, Meu Filho, Meu Amigo, em sua homenagem. E daí vieram tantos outros. 
 
 
Qual a importância da poesia no mundo e para você? 
 
 
A poesia é o nosso ego alterior; é aquilo que idealizamos. Se idealizamos um mundo perfeito, assim o queremos. Ela também nos ajuda a educar, conscientizar e a denunciar.  Se o mundo fosse regido pela poesia, talvez não tivéssemos tantas guerras; tantos conflitos. A poesia me permite explorar vários mundos, onde não há limitações ou apologias.  
 
 
Um livro pode mudar a mente de uma pessoa, pode mudar o mundo, ou isto tudo é conversa de poetas sonhadores? 
 
 
Quando escrevemos, não sabemos o impacto que aquilo pode ter nos leitores. Esperamos que seja o mesmo que tivemos ao escrevê-lo; que o leitor tenha a mesma paixão e entendimento daquilo que quisemos dizer. Temos a oportunidade de sensibilizar, denunciar e conscientizar as pessoas de certos temas que afligem a sociedade, além de outros que acendem a chama do coração. Se fizermos uma diferença, mesmo que pequena, então tudo terá válido a pena
 
Como você vê o meio literário aí nos EUA, conhece autores independentes?
 
 
Nos Estados Unidos, como no Brasil, para se conseguir infiltrar no mundo literário, é preciso bastante determinação e também um pouco de sorte. Tenho familiares e amigos aqui no Texas que publicaram livros e tiveram um relativo sucesso.  Este é um País de oportunidades. Se você publicar um bom produto, eventualmente terá o reconhecimento do público e dos críticos literários. 
 
 
Como publica e divulga sua obra? 
 
 
Há anos que escrevo para diferentes meios de comunicação, mas esta é a minha primeira experiência na publicação de um livro. Por ser goiano, escolhi uma editora em Goiânia, que facilitou todo o processo. Aqui nos Estados Unidos, a minha filha Stephanie, tem sido a grande promotora do meu livro, através de redes socias, mídia local e órgãos independentes, como por exemplo, a “Brazilian Endowment for the Arts”, de Nova Iorque. No Brasil, deixei alguns dos meus livros em regime de consignação com uma distribuidora local. Em breve, os leitores poderão acessá-lo digitalmente e também através da Amazon.com. 
 
 
Fale-me do seu livro, qual poema você destacaria como mais que especial?
 
 
Ele foi escrito embasado em experiências pessoais e observações dos elementos da vida ao longo dos anos. O poema de destaque, naturalmente, é o que dedico à Ana Aleixo, uma mulher que abdicou à vida a favor dos filhos, enfrentando todos os tipos de adversidades, mas que soube lidar com tudo aquilo com nobreza e estoicismo. Para a minha felicidade, ela chegou a ver o livro, que lhe é dedicado, alguns dias antes de falecer, em fevereiro deste ano. 
 
 
Quais autores lhe influenciam, e como se dá seu processo criativo?
 
 
Não tive influência de poetas, mas, sim, de romancistas. Destacaria dois autores: Frank McCourt, escritor americano-irlandês, que editou um livro – As Cinzas de Ângela (Angela’s Ashes) – sobre as dificuldades e preconceito que enfrentou sua família católica e pobre durante sua infância em Limerick, na Irlanda. Uma verdadeira história de luta e sobrevivência. O outro seria Khaled Hosseini, escritor americano-afegão, que publicou uma bela obra – O Caçador de Pipas (The Kite Runner)– que conta a história de um garoto rico de Cabul, no Afeganistão, que é atormentado pela culpa de ter traído seu criado e melhor amigo e a eventual implantação do regime militar pelos Talibã naquele país. E, quanto ao processo criativo, sou um ávido observador da vida, dos detalhes que ela nos oferece, tornando-se grande fonte inspiradora.  E, claro, um bom vinho, Cabernet, por favor, também desperta o meu lado emocional e sentimental. 
 
 
Você escreve poesia,  já pensou em escrever outro tipo de literatura?
 
 
Espero, futuramente, publicar romances. Já tenho algumas ideias de tópicos sobre os quais gostaria de escrever. 
 
 
Americano lê mais que brasileiro?
 
 
E difícil de dizer, mas talvez sim, não porque o brasileiro não goste de ler, mas, sim, pelas condições oferecidas neste país. Nos Estados Unidos, mesmo nas menores  cidades, sempre pode-se encontrar ótimas bibliotecas equipadas com livros de últimos lançamentos. E, para a conveniência dos leitores, facilitam, de todas maneiras, o processo de check-out dos livros. O mesmo acontece nas escolas públicas, onde os livros são grátis. Há também vários tipos de competições, que incentivam os 
estudantes a ler.
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