Onde muitos enxergaram restrições, jovens empresários identificaram ambientes propícios à inovação. São brasilienses que descobriram no patrimônio o mote para abrir o negócio próprio. Eles produzem réplicas das placas de sinalização, desenvolvem camisetas com ilustrações típicas da cidade e estimulam vivências por Brasília. Mais do que lucrar, querem suscitar o encantamento pela capital federal. Dessa forma, atuam na formação patrimonial de moradores e visitantes, público por vezes pouco familiarizado com o tema, como aborda a quinta e última reportagem da série “Educar para se apropriar”.
Construir a noção de pertença é objetivo comum aos empreendimentos. Quando a Tríade Patrimônio surgiu, em 2003, a autoestima do brasiliense estava ferida pelos casos de corrupção atrelados à imagem local. Eram os anos 2000 e não se falava em orgulho de morar por aqui. Os painéis de Athos Bulcão amargavam a falta de manutenção, conforme catalogaram, à época, Patrícia Herzog e Tatiana Petra. As duas têm formação em turismo e organizaram o inventário das obras do multiartista. A partir daí, conceberam “Na trilha dos azulejos”, aulas-passeio com alunos da rede pública pelos painéis de Bulcão. “Havia desconhecimento do que é Brasília. Há 12 anos, ela era vista apenas como ‘a cidade do poder’”, diz Tatiana.
A ideia é investir na formação patrimonial dos pequenos e potencializar os efeitos para as demais faixas etárias. “A criança tem um poder multiplicador incrível. Ela ressoa na comunidade aquilo que aprendeu”, explica Patrícia. Para ela, saber o significado de Brasília é a maneira de fazê-la se desenvolver. “A cidade que conhece a sua história consegue fazer disso um mote do desenvolvimento”, afirma. Ela compara Brasília a Barcelona, metrópole espanhola que defende com veemência o patrimônio local. “Estamos em uma cidade histórica também. Uma cidade moderna, mas também histórica. Como ela não é cuidada?”, questiona.
À experiência da Tríade Patrimônio seguiu-se a criação da Experimente Brasília, que oferece passeios turísticos pelo quadrilátero. “Mudamos a lógica da apresentação de Brasília. Mostramos que é uma cidade viva, modernista”, detalha Patrícia. O público que busca a Experimente é diversificado. “Recebemos muitos turistas estrangeiros, mas os moradores também nos procuram muito. Eles querem conhecer melhor o local em que vivem”, afirma Patrícia. O resultado é surpreendente. “Turistas e moradores se dizem encantados.”
Duas rodas
Conhecimento é o ingrediente para aguçar o interesse pelo patrimônio, como percebeu o empresário Graco Melo Santos, 48 anos. Arquiteto e urbanista de formação, há dois anos, ele e a mulher, a psicóloga Fabiana Fidélix, 44, mantêm a Camelo Bike Tour, empresa de cicloturismo. A proposta dos bike tours que o casal organiza é apresentar a cidade pelo viés cultural e histórico. “É muito interessante perceber que, com um pouco de informação, as coisas começam a fazer sentido na cabeça das pessoas”, conta Graco Melo.