van do Carmo
Marcelo de Sousa nasceu em Brasília no ano de 1981. Graduado em História, divide-se entre a música e a literatura. No ano de 2003 participou da Mostra de poesia “Letras Brasileiras”, lançada também no Uruguai. Em 2005 foi o 9º colocado no Prêmio Sesc de Poesia. Em 2006 classificou-se em 10º no Prêmio Sesc de Contos. Participou em 2009 da Coletânea de Poesias da Universidade Federal de São João Del Rey – MG. Em 2014 ganhou o 1º lugar do Prêmio Literário Prado Veppo de Poesia. Entre um texto e outro ainda encontra tempo também para se dedicar a outra paixão: A música. Guitarrista das Bandas “Jack Etílico” e “RivoTrip” encontra nas cordas uma forma de se descontrair e relaxar. A banda Jack Etílico tem um caráter mais informal, tocando em festas e aniversários de amigos simplesmente pela diversão. Já a RivoTrip atua em diversos bares e festas particulares na cidade e o repertório é sempre baseado nos clássicos do Pop Rock Nacional e Internacional.
Meu caro poeta, viver a arte como tu vives, na música e na poesia, esta intensidade subjetiva, traz para tua vida algum objetivo prático?
Ernest Ficher dizia que a poesia tira o homem da realidade, mas o devolve mais enriquecido. Acredito que as artes de uma forma geral promovem essa mudança na nossa relação com o mundo. Produzir e consumir arte, te traz auto-conhecimento, te torna um ser mais reflexivo em suas atitudes, e consequentemente faz de você um ser humano melhor.
A poesia também é uma forma de fazer música, creio eu, então como definiria a música brasileira atual? Se é que temos um hoje uma música para ser definida.
O gosto musical é algo muito particular. Mas mediante uma segmentação de mercado que atribui valor a apenas 2 ou 3 gêneros musicais, levando a grande massa a consumir apenas aquilo, é simplesmente lamentável o cenário musical hoje. O nosso país tem uma riqueza musical imensa. As culturas regionais com suas particularidades produzem coisas belíssimas, mas infelizmente com as rádios, produtores e gravadoras dando espaço e visibilidade apenas para 2 ou 3 estilos, ainda vamos “passar mal dos ouvidos” por muito tempo. Por outro lado a cena independente não pára, artistas se misturam, produzem obras interessantes e cada dia mais surgem bandas e cantores com outras propostas musicais embora não tenham a estrutura e o apelo de marketing que o análogo mercado de hoje impõe.
Mesmo com tanta experiência e tantos textos escritos, e até premiados, por que ainda não publicastes um livro de poesia?
Tenho dois projetos de livro engavetados, e outros escritos esparsos que ainda não organizei. E o processo de escrita para mim é árduo, muito embora prazeroso. É aquela velha história: “Não existe inspiração. Existe transpiração.” Mas procuro sempre inscrevê-los em concursos culturais que dão como premiação a publicação da obra completa. Acredito que ser publicado por uma editora de renome é a melhor forma de entrar no mercado literário.
O que tens a dizer sobre participação em concursos literários, acreditas que são essenciais para o novo autor?
São fundamentais. Acredito que através de concursos o autor vai tendo um feedback de como seus textos estão sendo recepcionados, e é a partir daí que o autor vai amadurecendo sua escrita e buscando a melhoria do manejo da palavra. Geralmente a banca de jurados é formada por bons professores, escritores renomados e pessoas ligadas diretamente ao meio literário. Isso é importante.
Como guitarrista de banda e poeta, em que consiste esta dualidade? Quem fala mais alto, o médico o monstro?
Confesso que de tempos em tempos preciso de um certo distanciamento da caneta. Para ler coisas novas, renovar as ideias ou até mesmo rever os autores já lidos. Já na música a prática precisa ser constante. Mas a ligação com a escrita, de fato é algo mais íntimo.
Que tipo de música mais aprecia e gosta de tocar?
Ouço muita coisa. Gosto de Jazz, blues, música clássica, choro, samba. Tenho um apreço muito grande também por black music, R&B, funk/soul. Pra tocar, gosto do bom e velho rock & roll.
Quais os poetas tiveram máxima importância na tua formação como escritor?
O primeiro livro que me veio às mãos foi “Cânticos” de Cecília Meirelles. Depois descobri Drummond e Castro Alves. Uma biografia que me marcou muito aos 16 anos de idade foi a do poeta Lord Byron, autor do clássico “Don Juan” e através dele me apaixonei pelo movimento romântico inglês descobrindo também Shelley, Blake e Coleridge, muito embora sempre houvesse uma grande dificuldade em achar esses autores em bibliotecas. (Que lindos tempos de internet que vivemos hoje!) Leminski, Torquato Neto e Ana Cristina César também foram fundamentais. Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto. Fernando Pessoa e T.S Eliot um pouco mais tarde. Acho bom parar por aqui. Mas foram muitos.
Poemas de Marcelo de Sousa
AFÃ
as intermitências
(suaves olhos por assim dizer)
são intempéries desse fim de tarde
e a penumbra se esvai
depois da insolação
repele-se o sal da pele
na mais completa delicadeza
de amorenar-se só
pela calçada
(imponência do vestido que balança)
é brisa
sem motivo aparente
que não pede licença
como se faltasse a distração
linha imaginária
escupindo o azul de dezembro
antes do céu
que não desaba
que não me sobra
nem a sombra
desse relâmpago
desfaz o meu espanto
antes do mergulho
o vôo
antes do vôo
apenas dois pés no chão.
como se a ti bastasse
esmiuçar-me
e
esvair-se
atravessar a rua.
PARA ADIAR A NOITE
para adiar a noite
uma flor no teu cabelo
e o rascunho extinto
dessa primavera duradoura
afeita de intempéries
desmancha o imperceptível fragmento
onde seria possível
antever o mar
o musgo indelével da retina
rente à ultima margem.
SÓ O SIM
sutilmente rabiscada na areia
tua boca interminável dança no rigor da espera
recusa alegorias retorcidas
rebobina as esferas
límpida estrela aberta
porém
é carnaval
(confetes sob a chama do cigarro)
mas não serve qualquer máscara
só o sim do teu nome
outra memória e gesto
nos íntimos segredos
deusa adiada para a manhã seguinte
no nexo de mil palavras e ainda não entendo a cor
furtiva
no calendário como as águas de março
porém é fevereiro
o alvo do vôo
na linha que se perde quando se apaga a luz
não será uma renúncia o preço do sono
tanto tempo depois?
uma chícara de café pra lembrar
escondido no vento da paisagem fica mais um verso
sem nenhum remorso
teu olhar vem depois
dizendo não
na escrita sem outro significado
tua mão
espera outras tintas
dedos rumo ao nada.
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