Por Lícia Lima
De Munique
Especial para o Anexo6
Chegou aquele momento em que a obviedade veio à tona. Alguns políticos da União Europeia (UE) insistem em declarar que não se pode confundir a crise migratória com os atentados terroristas em Paris no fatídico dia 13 de novembro. Porém, as investigações revelam que alguns desses terroristas se beneficiaram das fronteiras abertas aos refugiados para adentrarem em território europeu sem serem percebidos, além de dados já anteriormente divulgados de que pelo menos 4 mil terroristas se infiltraram na crise. Ou seja, criminosos e inocentes se misturaram e esse era o maior medo do povo europeu. Estava tudo muito óbvio que era questão de tempo que a Europa iria sofrer um atentado terrorista.
Moro em Munique, cidade que não é alvo declarado do Estado Islâmico, mas é a que ainda recebeu o maior número de refugiados, e desde quando começou a crise migratória, a cidade não é mais a mesma. E a pergunta que se faz é: como isso vai acabar ou seria só o começo? E quem são os ditos refugiados? Antes de responder, seria bom esclarecer: não é de hoje que a Europa tem essa demanda, mas o que aconteceu dessa vez para chamar tanto a atenção do mundo? Poderia elencar vários motivos, mas um se destaca: as constantes mortes nas travessias sendo amplamente divulgadas de forma sensacionalista. Lembram do caso do menino turco nas areias do Mar Mediterrâneo? Como sempre, a mídia sensacionalista não perdeu a oportunidade de publicar essa imagem repetidas vezes e de enquadrá-la como o “símbolo da crise migratória”. Não se julga aqui o fato em si, que é triste, mas sim, o uso apelativo da foto para chamar a atenção sob uma visão unilateral do problema. A partir daí, iniciou-se um apelo mundial de que todos deveriam ser acolhidos na UE sem distinção, mesmo diante de uma necessidade de controle das fronteiras e limitações de acolhimento. Inevitavelmente a pressão chegou à cúpula dos países europeus e a Alemanha encabeçou uma política de acolhimento, contestada por opositores do governo da chanceler Angela Merkel e outros países, mas motivada também pela manutenção de uma imagem distante daquela Alemanha nazista. Porém, onde estava o plano para isso? Os acordos de livre circulação e de pedidos de asilo na UE não estavam funcionando; a crise econômica de vários países europeus, com o ápice da crise grega; a mídia mundial publicando massivamente o lado trágico das travessias e fazendo apelo emocional; e, enquanto isso, dentro do continente, o povo europeu via um risco iminente de falta de segurança, mesmo com toda a boa vontade que se teria para acolher os refugiados. Porém, para o povo a questão seria como identificar um refugiado e não um terrorista ou oportunista que só queria entrar na Europa por questões socioeconômicas.
Na Alemanha são inúmeros os programas sociais, que abrangem não só os imigrantes, mas todos seus residentes. Os impostos pagos são caríssimos, afinal de contas, alguém tem que manter toda essa estrutura. Portanto, quanto mais se ajuda, mais se atrai pessoas para o país. E sob essa “propaganda” dos benefícios de se morar na Alemanha, tem-se a justificativa de ser um país velho, que precisa de mão de obra. Porém, às vezes “o tiro sai pela culatra”, pois muitos desses não querem se integrar à sociedade, aprender a língua e sequer trabalhar. Outros, sim, trabalham e querem ter uma vida digna em território alemão. Essa polêmica se ampliou com a crise migratória. Quanto mais se divulgava que a Alemanha estava de braços abertos aos refugiados, mais pessoas eram motivadas por essa divulgação. Além de Merkel dizer repetidas vezes “Wir schaffen das” (nós conseguiremos), o que se tornou o slogan da crise migratória no país e a concretização da esperança de quem queria vir à Alemanha.
Um dia apareceu na TV alemã uma repórter perguntando a um refugiado, que estava a caminho da Alemanha numa estação de trem, o motivo de ele não querer ficar naquele país europeu que estava e ele disse em determinado momento: “eles falam a língua deles e a gente não entende”. E a repórter perguntou “E você fala alemão?”. Esse é um exemplo de que a ideia de que a Alemanha era o melhor destino já tinha sido propagado entre os refugiados, que queriam escolher o seu novo país e não serem acolhidos em qualquer território seguro. Somente depois de terem constatado o obvio, a chanceler alemã decidiu reavaliar a política de refugiados, mas ainda terá de achar soluções para os pedidos de asilo que já podem ter ultrapassado 1 milhão, uma vez que o governo alemão agora se nega a revelar esses dados para não assumir que a situação fugiu do controle.